Desde o regresso das férias que me esforço por, quase todas as noites, depois do jantar, dar uma volta ao condomínio (o que implica subir algumas rampas desagradáveis). Uma vez que os domingos têm estado ocupados com programas vários (outrora, manhã de caminhada) e a hidroginástica está suspensa por motivo de férias, procuro dar algum exercício regular aos músculos e, dado as altas temperaturas dos dias, o período da noite parece-me ser o mais aprazível.
Acontece que, em todas as noites que caminho (num estilo muito próprio, convenhamos, chamar-lhe-ia um andar
à pato, embora com um enorme esforço por manter uma postura normal), me deparo com as mesmas pessoas : a senhora solitária na varanda, enquanto o marido na sala vê a Sport TV; o casal de lésbicas que cumpre o ritual do cigarro pós jantar; o
macho man que fala alto ao telefone, na janela, enquanto a mulher lava o chão; os amigos do alheio, que se encontram no café e se sentam na esplanada para falar dos desvarios da vida.
Eu. Todos eles. À mesma hora. Quase todos os dias.
Todos cruzamos olhares. Eu penso o que escrevi.
E eles... Eles transmitem-me uma mensagem uníssona : "Esta maluca anda a abusar.... Um destes dias ainda
pare em pleno condomínio e estamos todos metidos numa cena.... estranha!".
Caros Condóminos,
se me lêem, prometo que não. Sou uma miúda discreta. Dizer asneiras, beber alcool em excesso e ter bebés na via pública, não faz parte do meu show.
Com os meus melhores cumprimentos,
Inês.