sábado, 11 de fevereiro de 2012
A Determinação.
Se existisse uma só palavra que caracterizasse o meu filho nos últimos dias, essa palavra seria Determinação.
Isto é para ti, Miguel Maria.
Faz hoje uma semana que me ouviste falar ao telefone, estava eu a ultimar os detalhes para o encontro com a actual dona do muito provável próximo membro da família. No fim, questionaste-me "Vamos mesmo ter um cãozinho, Mamã?". Confirmei.
Momentos depois, estava eu na cozinha, quando entraste e num tom muito sereno, me abordaste: "Mamã, já não vou usar chuchinhas. Vou guardar todas num saquinho e dar ao nosso cãozinho.".
Eu ainda pensei não ter entendido bem. Parecia que o que dizias não fazia sentido pois estava absolutamente dessintonizado da realidade que eu conhecia: eras um menino muito dependente das chuchas para adormecer, inclusivamente dormias com alguns pares delas pois tinha o vício (que eu achava encantador...) de ir revezando as chuchas durante a noite. Quantas dezenas (centenas?) de noites me sentei á beira da tua cama, sem fazer barulho para não te acordar, e só a observar este teu movimento. Por outro lado, já há algum tempo que eu e o teu pai te andávamos a abordar para deixares as chuchas, porque estava crescido, porque poderia fazer mal aos dentinhos, porque tínhamos a certeza que serias capaz. Mas nunca insistimos nem te forçámos a nada. Sem sucesso. Essa era uma relação de dependência forte. De conforto, de refúgio, de consolo. E por saber que eram tão boas as sensações que tinhas, acabei por abandonar o assunto, com falta de coragem para te ver sofrer.
Por estes motivos, naquele momento, as palavras proferidas pela tua vozinha - segura, tranquila e determinada - pareciam não encaixar na minha cabeça. Ultrapassei o momento de dislexia e logo te apoiei, e motivei, e entusiasmei e tudo que pude para que sentisses como valorizava a tua atitude.
Achei admirável a tomada de decisão e fiquei francamente vaidosa pelo teu gesto, pela iniciativa e nobreza da acção mas, sabia que na "Hora Chucha" voltarias à tua fiel relação. Mas o que tinhas dito, o que tinhas demonstrado ser, já fora o suficiente para me encher de orgulho.
Mas as crianças têm a extraordinária capacidade de nos deixar incrédulos e absolutamente desarmados. Faz precisamente hoje oito dias que tomaste a tua decisão e nunca mais voltaste a usar uma chucha. Estão todas arrumadinhas na tua mochila que escolheste para dar ao cãozinho. Tens sofrido de forma vísivel e visceralmente dolorosa para mim, mas não cedeste. Quase eu te fiz ceder, questionando-te algumas vezes (perante tua declarada ansiedade) se não quererias uma chuchinha, e sempre rejeitaste alegando que já não usavas chucha e eram todas para o cãozinho. E estão todas ali, à tua mão, acessíveis a uma regra quebrada, a uma batota que virtuosamente não fazes. E sofres. E choras inclusivamente de noite. Mas tens a tua determinação que te move. E tens quatro anos.
E eu duvido que esta fosse/seja uma adicção (pelo menos como o era para ti) menos viciante que o tabaco, o roer as unhas, o chocolate e outros que aprisionam tantos adultos.
E eu estou aqui pequenina, pequenina. Pequenina a vislumbrar a tua grandeza.
Mas estou também grande, enorme. Estou gigante com a certeza que, venhas tu a cometer os erros que cometas na vida, eu e o teu pai te passámos os valores e principios correctos, e hoje, agora, sinto um orgulho de ti, meu filho, que durará até depois da minha vida.