segunda-feira, 16 de setembro de 2013
Filhos Condicionais.
A escola deve ser um espaço de respeito pelas crianças. De zelo pelo seu bem-estar, pela sua integridade e felicidade. Na escola transmite-se conhecimento e ensina-se ética. Aprende-se a ler e a contar, assim como, a respeitar as diferenças de raça, de classe e de género.
Passar todo o período de férias sem saber o que lhes reserva o futuro próximo escolar. Se ingressam (como é suposto) no 1º ciclo, ou se se mantêm no pré-escolar (como não é suposto), ou se sequer, ingressam. Finalmente, a uma semana do inicio das aulas, definir-se um cenário. Mas, na véspera do início das aulas, afinal, alterar-se. Este rodopio emocional, não faz parte (ou, não devia) das cartilhas.
Então, no dia de inicio de aulas, no dia em que as crianças acordam com um nó na barriga, que exibem as mochilas novas e o material novo, que anseiam por conhecer os novos professores e colegas, a nova sala, cujo coração bate a mil, as mãozinhas tremem e os olhos brilham de excitação e igualmente de choro escondido pelo medo do desconhecido - neste dia - hoje - não tínhamos (não temos), certezas sobre o futuro escolar próximo do meu filho. E ele não percebe porquê. Para já, mantém-se no pré-escolar, mas com forte probabilidade de ser chamado entretanto (sem previsão de data) para integrar o 1º ciclo.
E explicar-lhe isto? E ajudá-lo a responder quando o questionam "Já vais para a escola dos crescidos?", "Ainda ficas com os pequeninos?", "Ainda não sabem?!?". E tudo porque, tanto ele, como ela, são "Alunos Condicionais", condicionados pela sua data de nascimento, e ficam sujeitos às vagas de última hora. Também eu fui "Aluna Condicional" e também eu sempre estudei no Ensino Público, mas, na minha altura, não se viviam tempos de desorganização sistémica e caos socio-económico-político, como hoje, em que os valores que devem ser transmitidos na e pela escola, começam a ser beliscados seriamente pelo desnorteio que se vive no país.
Neste momento tenho duas mochilas, para a mesma criança, à espera de serem usadas. Uma para o Pré-escolar e outra para o 1º Ciclo. E uma cabecinha que precisa de ancorar.
Existem escolas para estes alunos "condicionais". Existem salas de aula. Existem Professores competentes à sua espera. Existem projectos educativos brilhantes. Mas começam a não existir valores, parece-me, que dêem à Educação o valor que realmente tem.
Desabafa a Mãe de dois filhos "condicionais", que tiveram o azar de nascer em Setembro e Outubro, num país à beira de um ataque de nervos.