terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Aos que desconheço o nome, mas não esqueço a grandeza.



O dia 09 de Janeiro de 2017 foi um dia dilacerante. Além da mágoa, carrego desse dia uma culpa, a de não ter ainda exposto a minha imensa gratidão para com aqueles que desconheço o nome, mas não esquecerei nunca a grandeza.

A vida sabe o que faz, e mesmo quando a nossa razão desconhece a razão que a vida tem, o tempo encarrega-se de, mais tarde, clarificar essa névoa. E existem sustos que nos servem para passarmos a ver melhor.

Precisamente há um ano atrás, quis a vida que eu amargasse. Entre a penumbra em que o meu corpo se enfiava, e a quase inconsciência dos meus sentidos, o amparo possível chegou através daqueles que gratuitamente praticam o bem, aqueles que sacrificam o seu tempo, as suas famílias, para tratar dos outros. Aqueles que quase nos parecem sumidos quando deles não precisamos, que quando estamos no nosso conformismo confortável apenas ilustram as histórias para dormir, ou participam no rol dos heróis que as nossas crianças almejam ser. Aqueles que para a maioria de nós, e dos dias, nos são transparentes e, naquele minuto de caos que transforma a nossa vida, eles se dão, por ela, por nós. Os bombeiros.

Hoje continuo sem saber como se chamam, se são artistas, se são estudantes, se são pais, se são só filhos, se são dextros ou canhotos. Não sei nada. Mas sei de cor o calor das mãos que me secaram lágrimas, dos braços que me cobriram com mantas, da agilidade com que contornaram procedimentos para me aliviar da dor, dos olhos que me fixaram e acompanharam, durante uma viagem que parecia interminável. No hospital foram a familia (que, naquele momento, eu não quis assustar, nem preocupar), que não me deixou até ao final da linha.

Ainda hoje não sei os seus nomes. Os dias passaram, entretanto a vida requisitou-me para outras exigências e desafios, e o meu agradecimento foi-se adiando. Sei que, para eles, fui mais uma ocorrência, ainda assim, não foi por ser mais uma cena repetida no seu dia, que deixaram de ser extraordinariamente grandiosos no exercício das suas funções. Guardo a vergonha de não ter voltado para agradecer, mas garanto que vos enobreço com a gravação da vossa imagem, para sempre, no meu coração.

Obrigada Bombeiros Voluntários.