quarta-feira, 3 de junho de 2009

Nasceste!

Às 15h14, do dia 26 de Outubro de 2007, nasceste Miguel Maria!

Desde miúda que era frequente ouvirem-me dizer “Eu nunca vou ter filhos!!! Tenho pavor! Nem pensar.” E, vê bem meu filho, hoje todos que me rodeiam se cansam de me ouvir dizer que foste/és a melhor coisa que me aconteceu!

Tive uma gravidez tranquila e feliz mas sempre assaltada pelo pânico do parto. O período de gravidez é propício a ouvirmos histórias tenebrosas e verdadeiramente assustadoras. Todos os dias nos encontramos com alguma Mamã que passou pelo mais improvável episódio e que se esforça por contar à Mulher grávida descrevendo-o com todos os detalhes de horror. Comigo não foi diferente. Eu tremia. Por isto, todos os dias, entre as muitas conversas que tinha contigo te pedia “Filho, nasce perfeitinho, saudável e sem causar muito sofrimento à Mamã”. E tu, meu amor, portaste-te tão, mas tão bem!

Na véspera do teu nascimento fui com o Papá fazer uma ecografia (36s + 6d). Estávamos um pouco preocupados pois estavas a cair de percentil e nenhum motivo era encontrado para o justificar. O Doutor viu-te com muita atenção e, para susto da Mamã decidiu fazer o “famoso” toque. Ainda meio surpreendida, deitada na marquesa com o Papá ao lado, oiço as seguintes palavras (e que nunca esquecerei): “Como previa, o seu filho terá que nascer mais cedo e será de cesariana. Já comeu alguma coisa hoje?” Eu nem conseguia pensar, tinha chegado o momento. Estava tão nervosa, ansiosa mas, ao mesmo tempo, aliviada por ter ouvido o termo “cesariana”! Como tinha comido antes da consulta, o Doutor marcou a cesariana para o dia seguinte (6ª feira – 37 semanas). Depois disto, comigo ainda muito atordoada, ainda fomos ao trabalho do papá e a uma junta médica para a qual eu tinha sido convocada (insólito com este avançado tempo de gravidez). No regresso a casa telefonei aos familiares e amigos mais próximos a dar a notícia, seria “Amanhã” e eu nem acreditava.

Nessa noite arrumei (ou voltei pela enésima vez a arrumar!) as tuas roupinhas, preparei o teu berço e tomei um relaxante banho de imersão. Sentia um misto de sensações por ir finalmente conhecer-te.

Bem cedo rumámos ao hospital (fiz questão de sair cedo para não apanharmos trânsito!). Para agravar o estado de ansiedade, os quartos estavam cheios e tivemos que esperar bastante pelo Check-In, nessa altura, enquanto o papá ia lendo revistas e jornais, lembro-me de lhe dizer “E se não temos quarto e não me fazem a cesariana hoje?!?!”. O papá tentava tranquilizar-me e dizia sempre que tudo correria bem. Finalmente subimos e fizeram-me a preparação da praxe. Durante este período o quarto parecia estar em festa, estava eu e o papá e ainda a Avó Guida, a tia Gina, o Avô António e Avó Fina, o Avô Carlos (sob efeito de um calmante) e a Avó Duarte. Tirámos fotografias e todos se esforçavam por me distrair.

Chegou a hora de me levarem para o bloco e a última pessoa para quem olhei foi para o papá que, nessa altura, por mais que se esforçasse não conseguiu disfarçar o nervosismo e preocupação. Passaram-me para a mesa de operações e foram-se embora. Aqueles minutos pareceram uma eternidade. Encolhi-me (estava muito frio) e agarrei-me a ti na minha barriga pensando continuamente “Inês, tem calma, vais conhecer o teu filho, não desmaies agora, aguenta-te!”. Finalmente chegou a Equipa, o anestesista (que foi adorável durante toda a cirurgia) administrou-me a epidural, ligaram a música (Vivaldi) e foram em busca de ti! A sensação é muito estranha, dizer que se sente tudo mas não dói está realmente correcto. O que me valeu foi estar envolvida na ansiedade de te ver e isso prevaleceu sobre os sons dos bisturis.

Muito rapidamente, após o inicio da cirurgia, o Doutor perguntou “Mãe, o seu filho vai nascer, quer ver ?” – Mais uma vez me surpreenderam ! “Mas já ??? É tão rápido??! Se quero ver ??? Não me avisaram que iria ver !!!” – pensei eu. Nesse momento não hesitei “Sim Doutor, quero ver sim” (desprezando as dezenas de vezes que já tivera desmaiado ao ver sangue!!). Vi uma imagem que ficará para sempre gravada na minha memória, tu, meu filho, muito dobradinho a seres extraído de dentro de mim. Aquele momento foi de êxtase, devo dizer que não me recordo de ver sangue algum, ouvir o que quer que fosse, só olhava incrédula para ti . Choraste, colocaram-te em cima da minha cara para te dar um beijinho e imediatamente paraste de chorar. Foi extraordinário! Eras “pequenino mas muito rijo!” conforme referiu com muito boa disposição o pediatra presente. O Doutor deu-me um beijinho na testa e disse “Parabéns Mãe, portou-se muito bem.”.

Com 2,375Kg e 46cm, às 15h14 do dia 26 de Outubro de 2007, nasceste Miguel Maria. O que antes me parecia ser impossível, tornou-se realidade, fui Mãe. A Tua Mãe.