quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Cinco Meses.


Cinco meses teus e os meus sentidos mais apurados.
Ver-te, faz-me ver o meu Mundo perfeito.
Cheirar-te, faz-me sentir uma Paz inquebrável.
Ouvir-te, faz-me sorrir a alma.
Tocar-te, faz-me sentir eterna.
Provar-te, faz-me encher de amor.
Melhoraste-me em tudo.

E tenhas tu, cinco meses, cinco anos, cinco décadas, de alguma forma estarei ao teu lado, para te ver, cheirar, ouvir, tocar e beijar, sempre que o queiras.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Meu Inspectorzinho de Obra.


Depois de o tirar da banheira, e depois de o limpar, enrolou-se todo na toalha a jeito de tenda, dizendo-me que ía para o tarreno. E começou.

- "Olá Sinhores! Está tudo bem?"
- "Sim? Boa."
- "E o que estão a fazer?"
- "Ah, a meter o tijolo! Deve  ser muito dive'tido."
- "Ah, e 'tá ali uma retabadoura (retroescavadoura)!!! Vão arrumar a terra, não é? Pois..."
- "Ah, e também 'tão a fazer o talhado. Que giro.
- "Pronto sinhores, o Miguel Maria tem que ir embora, mas eu amanhã volto, 'tá bem? 'Tá?"
- "Adeus sinhores!!!"

- "Pronto Mamã, já voltei do tarreno! 'Tá tudo bem!".
Nesta altura, sai debaixo da toalha de banho e retomamos a tarefa.

E nisto resultam as inspecções diárias de Pai e Filho à obra.
Será melhor apressar-me a estudar conteúdos de construção civil ou, não tarda, não terei resposta para muitas perguntas que por aí se adivinham.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Sim ou Não. Aqui ou Ali.


Escolhas. Decisões. Mudanças.
Já mudei um pouco.
Estou a mudar alguma coisa.
Tenho bastante para mudar.
Em mim. Em meu redor. Onde estou. No que faço. Como faço.
Sempre andei com a mudança ao colo. E esta, quase sempre, me deu um abraço. Não tenho do que me queixar.
Talvez pela minha essência, pelos passos que dei e pelas pessoas que conheci, a necessidade de mudança, frequentemente me assalta o pensamento.
Às vezes tento contrariá-la, mas não me consigo contrariar, não a mim.
Às vezes estou sossegada, mas desassosegam-me, sim a mim.
Não creio ser coisa de louco, creio ser coisa humana, este querer mais e melhor, este não abrandar enquanto não realizar.
E, nestes dias, ela por aqui anda.
Puxa-me a perna, o braço e a orelha, e eu faço-me desentendida mas, como disse, a mim não me engano eu.
Algumas mudanças desejadas, algumas necessárias. Voluntárias e não.
Ora latentes, ora eminentes. Mas todas difíceis.
E tomarmos uma decisão é lixado.

Preciso dormir.
Está decidido.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Por se falar em Amor.


A minha filha enamorou-se.
Anda encantada, deslumbrada, mesmo apaixonada.
Enamorou-se de um Ranger do Espaço.
Os seus olhos faíscam, quando o vê.
Os suas pestanas redobram, quando o ouve.
Os seus pézinhos ficam em pontas, quando o toca.
Temo pelo confronto entre uma futura realidade e as expectativas agora criadas.
Deverei avisá-la que serão poucos os homens que lhe dirão: "Vim para salvar o planeta, vamos juntos nesta aventura!"?;
Deverei alertá-la que serão escassos os que lhe manterão um sorriso permanentemente sincronizado com um olhar sedutor, no matter what?
Deverei dizer-lhe que menos ainda irão articular-se acrobaticamente só para a fazer sorrir?

Acho que não. Não devo fazer nada.
Porque são poucos, quase nenhuns, mas existem. E eu sei disso.
Porque espero que a vida lhe reserve alguém que lhe ensine o Amor, o outro tipo de Amor.
Porque olho para ela e quase lhe vejo as borboletas na barriga quando ela o vê.
E isso é um Amor.
Um Amor de brincar, de plástico, a pilhas, entre fraldas e colheradas de sopa pelo meio, mas um Amor.
Um primeiro Amor.

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*Buzz, enquanto a fizeres sorrir e a motivares a comer a sopa toda, tens livre trânsito pela casa e recarrego-te semanalmente essas pilhas!

As Mães conseguem ver o que querem.


Ontem o Miguel Maria passou por mim a correr e observei-o. "Está tão crescido", pensei.
E constatei que estava realmente mais gordinho - dentro do género magro-gordo, pois gordo nunca será. Notava-se claramente. Efectivamente ele tem andado a comer muito melhor e isso alegra-me e tranquiliza-me. E ontem, o físico dele, sobretudo as pernas dele, correspondiam visivelmente a isso.
E eu ostentava um sorriso palerma na cara, finalmente o rapaz estava a deixar de ser lingrinhas.

Mas depois, observei melhor e notei algumas saliências estranhas. O rapaz também não anda a comer o suficiente para já ter criado flancos de gordura... Chamei-o para averiguar e apalpar terreno.
Dois - DOIS! - pares de calças* (sendo umas grossas de fato-de-treino e outras grossas de pijama!) e umas pernas magrinhas, foi o que encontrei.

E assim se quebra o encanto de uma mãe.

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*Isto é o que dá dizer-lhe para vestir o pijama sozinho. O seu pragmatismo masculino leva-o a vestir, sem perder tempo com o despir primeiro!

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Dá-me música.



MM: "Mamã, quero coca-cola, por favô."
Eu: "Primeiro acaba de comer o que tens no prato.
(...)
Eu: "Agora já podes beber, mas só um bocadinho pois sabes que faz mal à barriga."
MM: "Hummm... Que bom. Sabes Mamã, eu adoro coca-cola. E adoro a Mamã."

***

MM: "Fogo pá!"
Eu: "Como ?!"
MM: "Nada Mamã, eu não dizei e não fazi nada.
Eu: "A Mamã não gosta que digas disparates."
MM: "Pois não Mamã. Eu pisco (explico): o Miguel Maria não diz parates e também não mexe na tasoura. Só a Mamã é que mexe poqué g'ande e quescida."

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Filho,
Divirto-me tanto contigo.
Com o teu racciocínio e com o teu dialecto, tão cheios de ternura infantil.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

A Abelha Berta.

As minhas horas de jantar voltaram a ser forçosamente criativas.
Já recuperei algumas que tinha criado para o Miguel Maria, mas agora crio novas para a Teresinha.
No fim, misturo tudo e leio-as, entre colheres, a um e a outra.

Era uma vez,
Berta, a Abelha sempre alerta.

A Berta nasceu numa flor cheirosa,
Cresceu e ficou uma abelha vaidosa.
Um dia decidiu sair da flor,
Para mostrar ao mundo a sua cor.

Esta era uma abelha bonita,
Com uma boquinha vermelha,
E um vestido à maneira,
A Berta ficava toda catita.

Mas Berta, achava que era a mais esperta
Não podia haver abelha igual a ela,
Que Berta ia logo à descoberta,
E mostrar qu'ela era a donzela!

Num lindo dia andava a voar,
E num malmequer foi pousar.
Mas nessa altura veio um caçador
Que lhe pregou um susto mesmo assustador!

A Berta voou de flor em flor,
E acelerava cada vez mais aflita,
Não tinha gostado nada daquela visita
"Óh senhor caçador, faça-me um favor
Deixe-me ir embora,
Não me feche na gaiola!
Vá agora procurar
outra abelha para apanhar!"

E então o caçador respondeu :
"Berta, pára com esse sururu
Outra abelha não quero eu
Pois não há nenhuma tão bonita como tu."

A Berta aí ficou alerta
Afinal já não queria ser a favorita
Era melhor ser mais amiga e esperta
Do que bela e maldita.

Foi aí que o caçador se distraiu
E a nossa abelha aproveitou e fugiu.
Voou para a sua flor rapidamente
E no caminho até já ia diferente.

Quando lá chegou,
Deitou-se na sua pétala e chorou
Agora ia ser a mais amiga
E acabar com tanta intriga.

E assim terminou
A história da abelha vaidosa,
E foi então que começou
A história da Bert'Amorosa!

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A Era Chop-Chop.


A Teresinha começou a comer sopa há duas semanas.
Reformulando, a Teresinha começou a praticar os actos de cuspir, soprar e expelir.
Sejam brancas, laranjas ou verdes, as sopas não a convencem.
E para a convencer, sobro eu. Eu branca, laranja e verde.
Eu a cantar, a assobiar, a declamar onomatopeias.

Ela há-de comer. Há-de, há-de.
E eu hei-de acabar como animadora cultural da Associação de Moradores.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

O sopro do Coração.


O Miguel Maria nasceu com uma cardiopatia. Embora seja devidamente acompanhado (ecocardiogramas a cada 9 meses), o Pediatra fica sempre algo desconcertado aquando da auscultação. Na última consulta referiu que a comunicação interventricular, nesta altura, já não iria fechar, pelo que, muito provavelmente seria necessário operar o coração do Miguel Maria.
- "Como ?!?!?!" - Questionei eu, quase em estado de sítio emocional.
- "É simples Mãe. Enfiamos um cateter no coração e fechamos aquilo. É claro que a criança leva anestesia geral. Entra num dia e, correndo tudo bem, sai no outro. Simples".

Simples. Para ele. Nada simples para mim. Imaginar o meu rebento numa cama de operações, a ser aberto para lhe mexerem no pequeno coração... Falamos de tudo menos de simplicidade.

Posto isto, o Pediatra pediu que o levassemos a um especialista que iria deliberar o avanço, ou não, para a cirurgia. E assim foi. E foi hoje. A cardiopatia mantém-se e viverá com ele, deverá continuar a ser vigiado (agora anualmente) e devemos tomar outras precauções  mas, devido à localização da abertura, não impõe a cirurgia.

E este sopro que me sopra de medo todos os dias, desde o dia em que ouvi na mesma frase "Miguel Maria", "Coração", "Cirurgia", tornou-se hoje um sopro de alívio. Um sopro que estará sempre presente e deverá ser respeitado, mas agora menos pronunciado.

E, por isto, tenho hoje o coração mais aliviado porque um dos corações que bate fora de mim, o do Miguel Maria, está mais sossegado e protegido.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Pálida como chocolate branco.

Saio da sala (por 10 segundos) para ir beber um copo de água.

MM: "Mamaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaã!!!!!"
Eu: "Sim, Filho?"
MM: "A Mana* tá a comê chocolaaaaaaaaate!!!!!!!!!!!!"

E, nestes momentos, fico na dúvida se mais vale desidratar com sede ou ter uma síncope.

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*Para compreensão futura da minha palidez perante o comunicado do MM, a Mana ainda só tem 4 meses.

Coração.


Amanhã, ficará tão mais apertado ou tão mais aliviado, este meu, agora angustiado, coração.

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Fila Zero.


Ter optado por viver na província, trouxe-me já, muitas vantagens:
- Menos poluição e mais oxigénio;
- Menos cinzento e mais verde;
- Menos carros e mais cavalos;
- Menos embalados e mais pão fresco;
- Menos ofertas fáceis e mais engenho.

E ontem, além de tudo isto, proporcionou-me tratar do Cartão de Cidadão da Teresinha com uma Fila Zero! Assim mesmo. Entrar, fotografar, assinar, pagar e já está, já foi.  Para tratar do cartão do Miguel Maria (numa Loja do Cidadão em Lisboa), demorei cerca de 3 horas com senha de atendimento prioritário.

E sim, eu é que ainda sou uma preconceituosa pedante, pois fiquei absolutamente estarrecida com a rapidez e eficiência do serviço, aqui, quase no meio do campo. Eu que quase perguntei: "Então mas e não tenho que esperar horrores? E não tenho que lhe trazer o papel do papel do papel? Está a fazer isso bem de certeza???".

Live and Learn.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Homens ai-ai

Ontem, a despir o Miguel Maria para o banho.

Eu: "Como é que fizeste isto no dedo?"
MM: "O quê, Mamã?"
Eu: "Este arranhão. Aqui."
MM: "Ah.... - olha para o dedo com os  olhos esbugalhados - Ah..."
Eu: "Vá, isso também não é nada. Vamos lá tomar banhinho."
MM: "Ai, Mamã, ai...".
Eu: "O que foi filho?"
MM: "Ai, Mamã, ai. Dói-me o dedo!".
Eu: "Filho, tu nem tinhas visto isso. Vá, já passa."
MM: "Mas, Mamã, dói-me tanto este dó-dói! Ai, ai!"
Eu: "Miguel Maria, entra na banheira que isso passa com a água."
MM: "AIIIII MAMÃ!!!!"
Eu: "SIM????"
MM: "A água aeijou-me o dó-dói! Ai, ai !!!!"
Eu: "Está mesmo quase a desaparecer. Vamos lá tomar banhinho."

- Depois do banho, enquanto o secava -

MM: "MAMÃ!!!!! Quidado!!! Olha o meu dó-dói!"
Eu: "Vamos despachar filho, temos que ir jantar agora."
MM: "Não consigo Mamã, olha o meu dedo... Não consigo... Ai, Mamã, ai!".

E é isto.
Declaro oficialmente o meu filho como um Homem ai-ai.
E também aprendi a ficar calada.