(A minha experiência, para uma querida amiga).
Quando os pais não estão juntos, eu acredito que tudo pode correr bem. Considero que o cenário ideal será o crescimento dos filhos sob o tecto partilhado de Mãe e Pai mas, se este tecto não for feliz, saudável e real, então tudo correrá melhor num regime de separação. Bem melhor do que quando os pais estão juntos, mas mal juntos.
Na minha opinião, o melhor será, sem dúvida, que ambos estejam simultâneamente presentes na vida da criança. É a ordem natural das coisas. E rotulem-me de conservadora, mas natural, genética e socialmente existem papeis melhor desempenhados por uns do que por outros. A mãe cuida, o pai brinca. A mãe acalma, o pai disciplina, a mãe alimenta, o pai desafia. É evidente que existem excepções, e ainda bem, mas escrevo sobre o que, para mim é a generalidade. E, nas várias ocasiões da vida da criança, uns e outros papeis fazem igual falta e, se ambos estiverem presentes para colmatar estas necessidades, tanto melhor.
Mas, nem sempre tudo corre como planeamos e há que ajustar as velas e seguir um novo rumo.
Escreve-te, minha amiga, alguém que é filha de pais divorciados e que, por circunstâncias profissionais, também vive uma realidade familiar de algum afastamento, embora com contornos evidentemente diferentes do que é efectivamente uma separação entre pai e mãe. E, pela minha experiência, posso garantir-te que fui uma criança feliz e uma adolescente (dentro da natural esquizofrenia da adolescência) bastante equilibrada porque, embora não presentes na mesma casa, tanto a minha mãe como o meu pai, souberam estar presentes nos momentos certos e próprios de cada um. Se preferia tê-los tido juntos? Claro. Julgo que esta é a resposta do coração de todas as crianças. Mas fui feliz. Sou feliz. E tenho uns pais maravilhosos que estão sempre ao meu lado. E acho que isso sumariza tudo.
Verás, como aliás já estás a constatar, que pode ser francamente dificil. As crianças são extremamente perspicazes e capazes de golpes certeiros. Ouvirás agora "Quero o meu Papá", "Não gosto de ti", "Não quero estar aqui, quero ir ter com o Papá". E, por mais que nos tentemos controlar (porque racionalmente todas estas reacções são justificadas), é quase inevitável um franzir do sobrolho e uma tensão pela espinha. Não diria que te habituarás, mas sim ,que ganharás endurance para gerir estas situações.
A grande vantagem neste processo é a imensa capacidade de adaptação das crianças. Ainda nós andamos a avaliar reacções e a prever cenários, e já eles estão alinhados com o toque da nova rotina, bem mais do que nós.
Vai tudo correr bem. Saibam tu e o Pai estar ao lado da criança nos momentos certos, transmitir harmonia entre vocês e, sobretudo, zelar sempre pela felicidade de uma criança que foi gerada pelo que, de melhor, vocês tiveram juntos. Se assim for, a vossa criança ficar-vos-á grata, pelo crescimento saudável e feliz que lhe proporcionaram. Tal como eu ficarei, para sempre, aos meus pais.
Não precisas comentar.
Estarei onde precisares de mim.
Beijos!