
Ontem e hoje estou em regime de tele-trabalho respeitando as normas de segurança da empresa e instruções da Senhora Ministra, uma vez que apresento um quadro gripal. Não, já percebemos que não é a A, mas é outra para chatear. Ao lado do rato do portátil tinha o comando e não resistia a intervalar revisão de documentos com zapping. Numa das paragens Zap, falava-se sobre Mães a tempo inteiro. Estas, a tempo inteiro, relatavam a experiência como gratificante e revelavam-se nada arrependidas da escolha. A entrevistadora, a vestir a defesa do Diabo, lançava faúlhas como “realização profissional”, “autonomia financeira”, “estímulo social”, etc, etc, etc. Tentei tomar uma posição, mas não consegui e acho mesmo que nunca conseguirei. Antes de ser Mãe, vislumbraria com facilidade um futuro medonho para estas senhoras… Faltar-lhes-ia tudo o que a mim era vital. Mas agora a minha condição mudou e não sei se até sinta inveja delas. Ter toda a disponibilidade para acompanhar o meu filho, permitir-lhe estar mais horas com a família do que com as educadoras/auxiliares, privá-lo do tormento do despertador, saber que estaria acessível sempre que assim fosse necessário. Tudo isto por um lado e, por outro, não viver em constante dilema com as obrigações profissionais e a gestão destas com as prioridades de uma Mãe. As ausências para apoio à família que empobrecem o bónus anual, as saídas antecipadas das reuniões de staff para as reuniões de encarregados de educação, a gestão das férias em que o período do Colégio por vezes bate de frente com os períodos de crise na empresa. Seria um alívio… Mas a adrenalina de uma promoção? O orçamento extra para os luxos femininos? O dinamismo social? Seria um assolo. É evidente que no dia em que a condição de profissional se incompatibilizar com a de Mãe, a escolha está feita. A prioridade está bem definida. Mas julgo que só se pode ser uma boa Mãe quando se está bem como Mulher e aqui mora o busílis. A Mãe estaria bem. E a Mulher? Mas a Mulher também não se sente realizada se num dia, numa hora, naquele minuto não estiver presente como Mãe … Enfim, uma controvérsia na qual é melhor não pensar. É viver o dia com uma mão na fralda e outra no portátil.