Ecocardiograma Fetal. Ou a auto-humilhação.

Hoje foi dia de Ecocardiograma fetal. A necessidade do exame prende-se com o facto de a minha bébé ter uma calcificação no ventrículo esquerdo (as apelidadas Golf balls), o que, se não tivesse já ocorrido com a gestação do Miguel Maria, seria motivo para me deixar agoniada durante toda a semana que passou. Adiante.

O que correu bem. O que correu, mesmo muito bem. O coração da bébé está saudável, forte e cheio de vitalidade. Via-se saúde naqueles batimentos e agilidade naquelas ritmadas contracções musculares. O veredicto final foi tranquilizador. Boa miúda! Incha esta mãe de orgulho!

O que correu mal. Vergonhosamente. No inicio do exame, já deitada na marquesa de barriga em pêlo, o Cardiologista cumpre a rotina de colocar o gel sobre a pele. Virou-se para preparar a máquina e, esta Mãe em nervos, num ataque de ansiedade o que faz ? Hein ? O que faz ?... Começa a esfregar o gel na barriga como se estivesse em casa a espalhar creme anti-estrias!!! Sim, aquele gel supostamente intocável. Frio. Pegajoso. Biaccc. Esse mesmo. O médico vira-se e, com um olhar colocado entre o espanto e o medo daquela doida na marquesa, questiona "O que é que está a fazer Mãe?..." Estive para responder "Sou eu que sou uma querida e gosto de facilitar o trabalho à sonda...", mas não, rendi-me à humilhação "Francamente não sei Doutor....".

Hormonas, sim, isto é para vocês : "Eu lixo-vos!". 

Bolamania

O dia começa com golos. Não de leite, não de sumo, golos entre o móvel e a secretária da Sala.
E vai-se desenrolando com passes. "Páxa Mamã!", "Agóia pa tás, vai pa tás", "Xuta Mamã".
Para que a motivação da jogadora não quebre, são dados reforços positivos ao longo do dia : "Boa Mamã! Muito beeeem Mamã", "Golo da Mamã, boa!".
E, à tarde, quando a guerreira já merece descanso, surge um novo desafio : "Vamos ao Páque, Mamã ?... Jogaí à bola ?".
Para terminar, na penumbra do quarto, no conforto da hora de deitar, depois do beijo de "gosto muito de ti, filho", eis que : "Mamã, Mié Maia quer fazer ó-ó com a Bola gande, a roja, a azul e a vêde, sim ?".

Nos próximos tempos nem me atrevo a dizer "Ou eu ou a bola, Miguel Maria!" pois adivinho a resposta cruel...

17 Semanas

Continuamos a crescer.

O movimento dentro da barriga torna-se, gradualmente, mais presente. É ainda discreto, mas vai-se assumindo diariamente. E isso é uma satisfação inigualável.

Estamos aqui, as duas, num abraço singular, a viver a extraordinária experiência da gestação.

Se faz favor, vou dizer um piropo. Com licença.

Sossegada, absorta nos meus pensamentos, lá seguia eu, a pé, para o Hospital para mais uma consulta.
Eis que um cavalheiro, de manga à cava, ouro à vista e olhar afiado se dirige a mim. Preparei-me para responder às perguntas mais prováveis que me poderia fazer : "Desculpe, não tenho relógio" ou "Não fumo, lamento." Mas enganei-me. Olhou-me com firmeza, confiantemente posicionou-se à minha frente e proferiu : "És apetitosa. Levava-te para casa." (E outras tais, que não me apraz escrever).

Desviei-me (sim, porque ele parecia seguro que o seu charme de chafarica me convenceria) e segui caminho, desolando o ego de tão ilustre exemplar de masculinidade latina.

Esta é a minha segunda gravidez e comportamentos deste género são reincidentes.
Dizei-me, eu que não faço parte da família FACEBOOK, existirá algum Grupo dos Amigos dos Homens que Cobiçam Grávidas ? Hum ? É que as Grávidas também adoram elogios, por isso, ok, existam, mas sejam mais elegantes, sim?
Vá, ide em paz e aproveitai o fim-de-semana para ler Paula Bobone.

Maria Teresa.

Teresinha,
Vens aí.
E eu, emocionada,
Fico aqui.
À tua espera.
Ansiosa, radiante e feliz.
Já fazes parte de Nós.
Filha.

16 Semanas.

Começo a sentir uma borbulhagem na barriga (será sugestão?...), embora no MM só tenha sentido às 20 semanas. E isto apanha-me, em muitas alturas do dia, com um ar de lunática, assim meio parada no tempo, inerte, inacessível a tudo o resto, somente concentrada naquele suave borbulhar.

Sinto-me bem. Sinto-me ágil, sinto-me feliz. Todos os dias gosto mais deste bébé. O sentimento de amor que duplica ao dia, repete-se. É impressionante este milagre da multiplicação do amor materno. Mas também me sinto ansiosa, a ansiedade normal e cruel que acompanha todos os dias de uma gestação. Acho que é um processo natural, quanto mais se gosta de uma coisa, mais medo se tem de a perder. E eu como gosto de estar grávida, óh se gosto! Este estado é a minha cara.

Bébé-feto, beijinhos da Mamã.
Sentimo-nos hoje e vemo-nos na 5ª feira.

O meu xixi é lindo!

O meu pequeno homenzinho está a preparar-se para quebrar mais um laço com o bébé que ainda é, mas do qual se vai distanciando a cada conquista. E apanhou-me de surpresa (como penso que acontece sempre que os filhos nos mostram o quão crescidos estão).

Na 2ª feira passada o bacio não fazia parte da  sua rotina e, desde 3ª, que tem feito gloriosamente uns xixis ora no bacio, ora na sanita. E eu e o pai festejamos, e batemos palmas e damos vivas e transmitimos-lhe motivação e satisfação com o seu recente comportamento.

O meu pequeno homenzinho está a crescer. E isso é bom. E isso deixa-me saudades de tudo o que vai deixando de ser. Acho que ser Mãe é isto, saudades do passado, ânsia do futuro. Mas, sobretudo, fascínio com o presente.

Cresce filho, que o teu passado, presente e futuro, todos cabem em mim.

À má fila.

Desde a gravidez do Miguel Maria que ando para pedir uma 2ª via do meu Boletim de Vacinas (o qual não devo ver desde 1992). Desta vez, enfermeiras e obstetra andam implacáveis e já não há desculpa que me ampare. Hoje lá fui ao Centro de Saúde.

Enfermeira : "Espere um bocadinho aí na sala enquanto trato do seu pedido, sim?".
Eu, a ingénua : "Claro. Muito obrigada!"

10 minutos depois.

Enfermeira : "Pode entrar. Sente-se. Já aqui temos o seu novo Boletim."
Eu, a ingénua : "Excelente. Não pensei que fosse tão rápido!"
Enfermeira : "Está bem disposta ? Já tomou o pequeno-almoço?"
Eu, a ingénua : " ??? ... ..."
Enfermeira : "Então vá, dispa-se lá, tem aqui uma vacinazinha em atraso, dê cá o braço."
Eu, a ingénua : " Mas... Mas... Mas levei a vacina da Gripe A na semana passada e ainda estou com o braço todo dorido. Além disso, estou constipada. E mais, já não pertenço a este Centro de Saúde...."
Enfermeira : PIMBA! "Vá, agora é normal ficar com o braço dorido durante uns dias e tenha febre durante 48h".

Gente da saúde, Enfermeiras e Obstetras, NÃO HAVERÁ POR AÍ MAIS NENHUMA VACINAZINHA QUE ME QUEIRAM DAR ? Hum ? Hein ?... Pensem lá bem, ainda tenho duas pernas disponíveis para picarem nas próximas 72h. Hum ?...
Vá, estou de saída, tenho dois braços para meter em gelo.

Selo Mágico.

Hoje tive uma surpresa. Chego ao mail e tenho um prémio virtual. Eu que nem nunca fui adepta destas coisas, não resisto a publicar pois quem mo deu, a Carla, é uma querida.

As regras são :
Começar uma frase com "Magia é....
Publicar o selo e ainda oferecê-lo a 10 bloggers, cujos espaços ou eles próprios sejam, para mim, mágicos.

Vamos lá, Magia é, num espaço invisivel, composto só por letras e emoções, criarem-se laços. E assim, como que por Magia, a amizade acontece.

E os meus laços, para já, vão para duas pessoas especiais, a Bê e Miss Strawberry (e seria para a Carla caso lhe pudesse reatribuir :-)).

O puzzle voltou-se a montar.

E as saudades sabem bem quando já passaram.

Nós por cá. Eles por lá.

Por três dias, seremos só nós, eu e tu, bebé-feto.

Por três dias, serão só eles, Pai e Mano.

Esta condição tem um sabor agri-doce. Estas viagens de trabalho, por um lado, fazem-me bem pois permitem ocupar só comigo, todo aquele tempo que as rotinas extra-trabalho ocupam. Hoje, tenho a piscina do Hotel à espera. E vou ter um buffet cuja confecção não foi programada e executada por mim. E vou ter tempo para os cremes que, em casa, costumo olhar de soslaio. Mas, vou ter saudades. Saudades de, no meio do comum, ser surpreendida com palavras novas, com gestos peculiares ou, só mesmo, silêncios de sono. Diz-se que ter saudades é bom, faz bem às relações, e eu concordo. Mas não saudades de um filho.

Daqui a três dias voltamos a montar o puzzle.

Quem quer ?

Quem quer uma Vacina da Gripe A para começar bem o dia, quem é ?

Ena, tantas! Mas não, hoje é para mim. Estou que nem caibo em mim de tanta excitação por ter à minha espera um objecto pontiagudo e luzidio com um líquido grosso injectável que, segundo dizem, dói que se farta. Querer, querer eu não queria, mas tem que ser e, sendo coerente com a postura que adoptei com o MM, é mesmo para levar. Tanto obstetra como pediatra (ambos em quem, até agora, tanto confio), são concordantes e não deixam margem para dúvidas.

Se tenho receio ? Pois, tenho. Claro. Afinal sou um animal social que é exposto e influenciado pelo poder dos media, logo, mil e um cenários dantescos se afiguram no horizonte da imaginação. Mas, a razão manda. A razão e aquele senhor que, em meu nome, decidiu declarar guerra aos doces. É um senhor tramado, mas em quem eu deposito muita confiança, mais que isso, a minha saúde e a do bébé-feto.

Quem quer ?

Páscoa.

Desta vez não foi abusadoramente cheia de amêndoas. Mas cheia sim, de sol, de mar, de areia, de boa companhia, e de dias quase tão bons, ou melhor mesmo, que chocolate às bolinhas.