quinta-feira, 30 de setembro de 2010

O Parto.



Faz hoje uma semana que a Maria Teresa saiu da minha barriga e enriqueceu a minha vida.

Posso dizer que o trabalho de parto emocional se iniciou uma semana antes. Na 6ª feira, dia 17 de Setembro, quando o obstetra afirmou que, salvo novidades, o parto seria induzido na 5ª feira, dia 23, nesse preciso momento, o meu coração e a minha cabeça começaram a latejar. Foi uma semana de emoções fortes e díspares.

No dia 23, 5ª feira, às 08 da manhã, apresentei-me, com o pai, para fazer o check in e dar inicio à indução. Como afirmei, a minha cabeça já estava em trabalho de parto e o que sinto é que eu já estava numa outra dimensão. Temia muito mas ansiava tanto. Não me expressava muito, respirava fundo e, quando assim é, significa que já estou em contenção de nervos.

Fiz toda a preparação clínica e o obstetra  deu o "GO". Faseadamente, estimularam-me manualmente o útero,  administraram-me o gel, romperam-me as águas e apostaram forte na oxitocina. O pai transmitia uma calma aparente e dizia-me que tudo correria bem e mais rápido do que eu previa. Com algum desconforto mas ainda tolerável, coloquei a família a par (por sms) e conversei com o pai.

A diltação evoluía bem. E as contracções também. Deixei de ter tolerância para o telefone, para a TV e até me escaparam muitas tentativas de conforto do pai. Administraram-me a epidural e tudo voltou a parecer fácil. A dilatação continuava mas as dores sentia-as a meio (tal como é comum acontecer, a epidural não funcionou em uniformidade). Eram 12h30 e o efeito desfez-se por completo. Todo o pessoal médico que me assistia estava a almoçar. Foi uma hora e meia a torcer (literalmente) a camisa do pai. Ele bem me tentava dar a mão e dizer-me para respirar mas, a dor do meu útero a ser torcido era descarregada ao torcer a camisa dele.

Ao monitorizarmos o CTG apercebemo-nos que o coração da Maria Teresa começara a sofrer oscilações muito grandes. Fiquei assustada. Entretanto a Equipa regressou de almoço (13:50). O obstetra constatou o mesmo e decidiu agir. Ao fazer o toque verificou que ainda faltava para os 10 dedos de dilatação mas não poderíamos esperar mais. Ordenou a equipa que me levasse de imediato para o bloco para ser feita a cesariana, de emergência.

Os momentos seguintes foram muito aflitivos e angustiantes e, como tal, são para os deixar lá e não aqui.

Às 14:10 (somente 20 minutos depois de se ter detectado a possibilidade de risco), a Maria Teresa nasceu. Saudável, perfeita e muito amada.
Tudo ficara, entretanto, bem. Ao abrir o útero o obstetra deparou-se com todo o cordão umbilical (50 cm) enrolado a tapar a cara da menina, impedindo-a de respirar e gerando aquele ritmo cardíaco problemático. Ao ser feita a extracção, tudo ficou bem. Tudo ficou maravilhoso.

Consigo relatar detalhadamente todos os episodios desse dia, mas faltam-me as palavras para descrever o que é, pela segunda vez, receber um filho nos braços que nos sai da barriga, onde cresceu e se desenvolveu por 9 meses. Transcende qualquer minha capacidade de comunicação.

Tive desconforto, tive dores, tive medo. Sim. Mas digo que foi perfeito. Perfeito. Face ao retorno, afirmo até que foi fácil. Passaria por tudo, todas as vezes necessárias só para a ter comigo, aqui, agora e sempre.

O pai foi perfeito.
Insubstituivel.

O médico foi de um profissionalismo impar.

Este foi o segundo dia mais feliz da minha vida.
Dizer que foi uma experiência sublime, é pouco. Muito pouco

domingo, 26 de setembro de 2010

Teresinha.


Se a felicidade se definisse numa imagem...


* Obrigada a todos pelo carinho e mensagens.

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Para vocês, filhos.

Maria Teresa,
Podes vir.
Estou nervosa, estou cheia de medo mas, mais que tudo isso, anseio por saber-te saudável e perfeitinha. Poderia enumerar múltiplos desejos, variados planos mas, neste momento, só me concentro em te colocar neste mundo, com saúde e toda a perfeição que as crianças merecem.
Vou dar o meu melhor, por e para ti. Sempre.

Miguel Maria,
Que nunca sintas que a Mamã se dividiu. Que entendas que se multiplica.
Que se decidi re-experimentar esta pontente sensação da maternidade foi porque tu, mais que algo ou alguém, me fez sentir feliz e realizada. Fizeste-me descobrir que ter bebés é algo maravilhoso e que existe amor incondicional.
Continuarei a dar o meu melhor, por e para ti. Sempre.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Indutores de tranquilidade.

Indutor 1

Eu: "A escolinha correu bem?"
MM: "Sim."
Eu: "O que fizeste hoje?"
MM: "Hoje o Miguel Maria vomitou a sopinha. E hoje eu chorei muito... Ah, e hoje também vomitei a gelatina."

Indutor 2

Minha Mãe: "Não sei como consegues estar tão calma... Eu, se estivesse prestes ter outro filho, estaria numa pilha de nervos."  *, **
Eu: "Obrigadinha..."

*A minha Mãe é muuuuito distraída;
** Eu sou muuuuito discreta.

38 Semanas.


Terminámos as 38 semanas.
Eu e tu estamos a terminar esta, ora já tão longa, ora ainda tão curta, viagem da gestação.
Fisicamente, não estou cansada, não estou saturada, não estou inchada e nem sofro de qualquer desconforto maior.
Psicologicamente, estou a ficar nervosa, inquieta e impaciente.

Esta deverá ser a nossa última semana de gravidez e, tal como aconteceu na gravidez do Miguel Maria, provei um verdadeiro estado de graça. Um estado que sinto como absolutamente natural e reconheço que sou uma privilegiada por tal. E estou grata por isso.

E agora fico à espera. E sei que está quase.
E estou com medo. Mas desejosa de te ver ao meu lado.
E estou assustada. Mas ansiosa por te ter no meu colo.
Estamos prestes a deixar de ter uma barriga por entre as nossas mãos e eu só desejo que tudo corra bem.

sábado, 18 de setembro de 2010

Fosse assim tão fácil.

Ontem à noite, depois do jantar, saí para a habitual caminhada.

MM: "Onde vais Mamã?"
Eu: "Vou à rua, filho. Não demoro."
MM: "Porquê?"
Eu: "Para andar e ajudar a mana Teresa a sair da barriga."

Hoje, depois do almoço (para compensar, uma vez que logo à noite terei um aniversário e não cumprirei o exercício).

MM: "Vais à rua Mamã?"
Eu: "Sim filho. Para ajudar a mana Teresa a sair. Não demoro."

Agora ao entrar em casa, oiço a vozinha dele, já deitado na cama para a sesta, dizer-me :

"MAMÃAAAAA, a mana Têja já saiu ??????"

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Agora é que vão ser elas...

Resultado da consulta de hoje : tudo muito bem, tudo impecável mas não convém esperar muito tempo mais devido à cesariana prévia (e não esforçar demasiado o útero com mais tempo de gravidez, útero que se quer apto para se avançar para o parto normal).

Posto isto, ou a princesa decide fazer check-out por sua iniciativa durante a próxima semana, ou partimos para a indução (Ai!).

Considerando o tanto que já li e ouvi (demasiado, convenhamos) sobre induções depois de cesarianas, acredito que seja algo pouco agradável, vá, horrível (Ai!). Assim, tenho uma semana pela frente para convencer a minha menina que, foi bom, mas a estadia está no fim...

E agora vou, pois tenho mesmo muito, muito para fazer nos próximos dias:

- Aumentar a minha caminhada nocturna e incluir alguns níveis de dificuldade (escadas, por exemplo);
- Esquecer-me de algumas coisas no carro e, com isso, descer e subir várias vezes a escadaria do prédio;
- Armar-me, finalmente, em fada-do-lar e passar-a-ferro, lavar vidros, aspirar e tudo isso que é tão giro...;
- Muito sexo;
- Banhos quentes;
- Comida picante.

Todas as sugestões, cientificamente comprovadas pois não tenho muito tempo a perder, serão bem-vindas.

PS : Nunca pensei empenhar-me na busca da dor... Este fenómeno da maternidade é muito maluco mesmo. Por vezes, insano.

Não é fetiche.

Neste momento, só me passa pela cabeça :

Umas mãos, fortes e musculadas, a calçarem luvas de latex e uma voz masculina a sussurar-me : "Agora, descontraia...".

E vai esta cena vai rodar daqui a duas horas, num hospital perto de mim.
Não é fetiche, não. É ME-DO.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Preliminares.

Mãe e Pai: "Miguel Maria, já falta pouco para a Mana sair da barriga da Mamã. Por isso, a Mamã terá que ir uns dias ao hospital e não fará ó-ó em casa. Mas o Miguel Maria irá lá dar beijinhos à Mamã e depois trará a Mamã para casa."

Miguel Maria: "Está bem... Mas o Maria vai com a Mamã para o pistal. O Maria fica com a Mamã no pistal."

Mãe e Pai: "O Miguel Maria irá ao hospital sim mas, durante uns dias, a Mamã ficará a fazer ó-ó no hospital e o Miguel Maria fará ó-ó em casa."

Miguel Maria: "Nã, nã. O Maria fica com a Mamã no pistal. O Maria diz."

___________________
Vai correr bem, vai...

terça-feira, 14 de setembro de 2010

37 Semanas.


Esta idade gestacional, 37 semanas, tem um significado especial para mim pois foi quando o Miguel Maria nasceu. Por um lado, isso indica que efectivamente esta viagem está a chegar ao fim e, por outro, que a gravidez daqui para a frente será, em quase tudo, nova pois nunca estive grávida de 37s +.

Como dita o eterno feminino, estou incoerente. Às vezes sinto que está mesmo quase (e a efeméride de hoje realça isso mesmo) mas, também me parece que ainda falta... Que esta  bebé está tranquila onde está e não tem pressa. O meu corpo dá alguns sinais, porém, parecem-me muito ténues e parece-me ainda tudo muito estável.

É-me dificil acreditar que, muito provavelmente até ao final do mês (2 semanas, portanto), darei à luz. Mas, sinto também uma imensa, crescente vontade de ter sobre mim, e não dentro, este ser, esta filha, esta menina.

Conforme escrevi, estou incoerente.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Objectos inconfessáveis.

Levo um, na mala da maternidade.
Como todos vós são gente de bem, eu confesso este : uma cinta. Uma cinta inestética, tortuosa e pouco desejável. Quase um artefacto beligerante com poderes de tortura medieval.

No dia em que tive alta, após o nascimento do MM, investi todas as minhas forças e oxigénio a tentar enfiar-me dentro dela. Aliás, minhas e do pai que, em muitos momentos, temeu pelo meu risco de asfixia e tentou, com um ar muito impressionado, demover-me da intenção de saída do hosital em modo apneia, ao que eu, quase irada, respondia apenas :"APERTA!". A verdade é que o meu acto de masoquismo durou fracções de segundos e optei pela vida. Desapertei e respirei. Três dias depois, voltei à luta e ganhei.

Odeio-a e amo-a.E, uma vez mais, segue na mala.
Estas relações amor-ódio fascinam-me.

domingo, 12 de setembro de 2010

Técnicas de insuflação, ou o Iogurte cocktail.

Já confessei as minhas múltiplas tentativas de engordar o meu maravilhoso, encantador, perspicaz, bonito e inteligente, MAS insistentemente magro, filho. Esta é a tentativa # 345 e dá pelo nome de iogurtes homemade altamente calóricos.

Ingredientes:
Leite Gordo | 800 gr
Leite em pó Nido | 1 copo da Bimby ou 35 gr
Açúcar | 100 gr
Iogurte natural | 1

Confecção:
No copo da Bimby juntar o leite, o açúcar e o leite em pó: 3 min, temp 50º, vel 4.

Junte o iogurte: 15 seg na vel.4 (sem temperatura).
Distribuir por copos e levar à iogurteira por 8-10 horas. Findo este período, passar para o frigorífico e estão prontos a consumir ao fim de 3 horas.

*No fundo dos copos poderão adicionar-se outros sabores complementares: Nutella, doce de morango, tartelettes de laranja e chocolate, etc.

Danone,
proponho uma parceria. Com um objectivo propocionalmente contrário ao Corpos Danone, proponho o meu Corpulentos Danone. De agrado ?

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

CTG & Toque | 1


O programa de festas do último mês de gravidez, começou.

O útero já iniciou actividade, porém, registam-se ainda contracções ligeiras (apenas uma a atingir os 30%) e irregulares.
O ritmo cardíaco da bebé está dentro da normalidade mas a movimentação dela já está a sossegar, pelo que, devo passar a contabilizar os 10 movimentos diários num período de 12h (caso não se verifiquem devo contactar o obstetra).
O toque acusa um colo de útero ainda verde.
Os valores de açúcar e colesterol estão criminosos! O médico desvalorizou por se tratar do fim de gravidez e por enquadramento com os restantes indicadores que, segundo ele, estão "fantásticos". Ainda assim, alguma contenção não me fará mal nenhum...

Resumindo, o médico diz que estou impecável, que se prevêem mais duas semanas com bebé em fase de estágio, mas para me mentalizar que estamos no fim.
Daqui a uma semana, take 2.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

36 = 9

Ontem, quando saí para a borga, sentia-me grávida de 3 meses.
Hoje (sim porque já era hoje), quando regressei da folia, sentia-me já grávida de 10!
Ter-se-iam passado 7 meses numa noite ?...

A verdade é que, quando entrei em casa, muito silenciosamente, pude ouvir todos os indicios do meu corpo (o cansaço, as dores nas costas, a sensação de azia, pois fiz questão de as acompanhar nos líquidos, elas com néctar dos deuses e eu com néctar da Compal, claro), e aí esmiuçei o conceito das 36 semanas, ou seja, entrada no nono mês.

Estou bem. Estou impecável.
Mas, estou também, a ficar com AQUELE medo.... Ai!

terça-feira, 7 de setembro de 2010

36 Semanas


E, às 36 semanas, a mala está finalmente preparada.
Sinto-me impecável e isso leva-me a crer que o parto ainda está distante mas, na verdade, o MM nasceu de 37 semanas.

Na próxima 6ª feira tenho consulta e o obstetra logo dará o prognóstico. Entretanto, tenho uma série de coisas para fazer e que têm que ser feitas já, pois no mês que vem estarei com alguma dificuldade em gerir agendas.

Assim sendo, amanhã começo a ronda : Almoço com a E., na 5ª com a L. e, na 6ª, com a A. E agora vou arranjar-me pois tenho uma ladies night com as minhas primas. Oxalá a Maria Teresa não se entusiasme e não queira participar do convívio In Locco.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Com os pés bem assentes na Terra,

...se inicia um Projecto.


PS - Sim minhas amigas (as que me conhecem demasiado bem), não se trata da Av. da Liberdade, nem do Chiado, nem de Belém, nem do Parque das Nações, nem de Cascais ou Estoril. É terra, mesmo. E sou eu, lá. E sou eu com botas de borracha, certo...

domingo, 5 de setembro de 2010

A minha contagem.

A contagem, para aquele que desejo que venha a ser o segundo Natal da minha vida, começa hoje.
No final desta caixa, as minhas emoções estarão todas desembrulhadas.
Acabei de comer o primeiro chocolate. Faltam trinta ou, muito provavelmente, menos.

sábado, 4 de setembro de 2010

Conversas miúdas #7

No supermercado, na zona dos legumes.

MM: "Mamã, mamã, olha!!!! Mamocas!!!!" (Alto e em bom som e de dedo espetado para uma senhora).

Eu olho e vejo a senhora, a olhar seriamente para o MM e curiosamente, ou mesmo por obra do destino de infortúnios maternais, com umas proeminentes "mamocas". E aí, eu tento esclarecer :

Eu: "Sim filho, são MOSCAS! As MOSCAS andam aqui à volta da fruta e dos legumes. Que marotas MOS-CAS!".

Para o MM, moscas são mamocas (por mais repetições correctas que já o tenhamos obrigado a fazer). Resta-me aguardar o fecho do Verão e, com este, a ida das moscas para longe das minhas vergonhas...

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Este nariz cheira-me a chatices!

Cheguei hoje ao Colégio para levar o MM a uma consulta de otorrinolaringologia, para avaliação das veias nasais quando me deparo com o seguinte cenário : nariz todo esfolado!

- "Como pode ser ?!?! Ele tem que ser observado e, preferencialmente, ter o nariz num estado que permita a boa observação." - Pensei e confrontei a Educadora.
- "Foi no parque Mãe... Ele foi a correr para o baloiço e a Francisca, que estava em movimento, acertou-lhe. Deitou um pouco de sangue e chorou, mas rapidamente voltou a brincar e a estar bem-disposto."
- "1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, ...." (as Mães fartam-se de contar, evitando tornarem-se animais agressivos!).

Seguimos para o médico, esperando que, embora todo esfolado, o MM facilitasse a observação.
A consulta correu muito bem, graças a um comportamento exemplar do paciente e a uma atitude mestra do médico.

Resultado : veias muito finas e susceptiveis de rebentar. Uma vez que ainda é muito pequeno e dada a espessura das veias, não será recomendável laquear já, faremos nova avaliação no próximo Verão. Até lá, colocar gotas de soro com frequência e, em caso de hemorragia, recorrer a um pedaço de algodão com soro, como efeito-tampão e, em simultâneo, pressionar a narina. Isto com a criança na posição vertical.

Posto isto, torno-me uma mãe graduada em áreas multidisciplicares, no que à saúde infantil diz respeito : Bronquiolites, domino; Gastroenterites, arraso; E, em breve, hemorragias nasais, extermino!

E, por isto também, ser Mãe é uma contínua demanda do Saber...

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Que a tua dor fosse a minha.

Hoje o Miguel Maria regressou ao Colégio, ao fim de um mês de ausência.
Um mês em total presença dos pais, com dias divertidamente preenchidos, com muita atenção exclusiva.
Hoje ficou a chorar. Eu não vi e nem ouvi (pois estava no hospital a fazer análises e foi o pai quem o levou), mas doeu-me. Quando o fui buscar, a velocidade com que correu para mim, o sorriso tão aberto e brilhante e a força com que me apertou... Doeu-me. Doeu-me pois, nesse instante, percebi o quanto teria sido dificil para ele, este dia.

Agora à noite, enquanto lavavamos os dentes, chamou-me. Olhei para ele e tinha a cara a escorrer sangue. Novamente uma hemorragia nasal. Mas grande, enorme, interminável. A princpio mantivemo-nos calmos mas o cenário impressionantemente encarnado começou a assustá-lo (e a enervar-me) e começou a chorar. Passei-o para o colo do pai e troquei as toalhas brancas por uma toalha de banho escura de forma a mascarar (para ele e para mim) a onda de sangue. Liguei para a Saúde 24 e segui as indicações (a saber : não lavar e pressionar as narinas da criança durante 5 a 10 minutos - o que, sendo uma criança de 34 meses, é muito complicado). A hemorragia foi travada, finalmente. Escondi rapidamente as toalhas e mudei-lhe a roupa. A sua carinha, ainda assustada, doeu-me.

Foi um dia dorido para o meu pequeno e, nenhuma dessas dores eu pude ou, alguma vez, poderei evitar. Só posso esforçar-me por lá estar, no final do dia de escola, ou a dar-lhe a mão durante um corte. Mas não posso absorver todas as suas dores e libertá-lo de tais.

E é esta é uma das grandes angustias da maternidade, a crueldade de vermos sofrimento na cara, no corpo, no coração dos filhos e restar-nos o acto de dar amparo.
Hoje, dar amparo, foi para mim tão pouco. Mas será sempre.