quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Que a tua dor fosse a minha.

Hoje o Miguel Maria regressou ao Colégio, ao fim de um mês de ausência.
Um mês em total presença dos pais, com dias divertidamente preenchidos, com muita atenção exclusiva.
Hoje ficou a chorar. Eu não vi e nem ouvi (pois estava no hospital a fazer análises e foi o pai quem o levou), mas doeu-me. Quando o fui buscar, a velocidade com que correu para mim, o sorriso tão aberto e brilhante e a força com que me apertou... Doeu-me. Doeu-me pois, nesse instante, percebi o quanto teria sido dificil para ele, este dia.

Agora à noite, enquanto lavavamos os dentes, chamou-me. Olhei para ele e tinha a cara a escorrer sangue. Novamente uma hemorragia nasal. Mas grande, enorme, interminável. A princpio mantivemo-nos calmos mas o cenário impressionantemente encarnado começou a assustá-lo (e a enervar-me) e começou a chorar. Passei-o para o colo do pai e troquei as toalhas brancas por uma toalha de banho escura de forma a mascarar (para ele e para mim) a onda de sangue. Liguei para a Saúde 24 e segui as indicações (a saber : não lavar e pressionar as narinas da criança durante 5 a 10 minutos - o que, sendo uma criança de 34 meses, é muito complicado). A hemorragia foi travada, finalmente. Escondi rapidamente as toalhas e mudei-lhe a roupa. A sua carinha, ainda assustada, doeu-me.

Foi um dia dorido para o meu pequeno e, nenhuma dessas dores eu pude ou, alguma vez, poderei evitar. Só posso esforçar-me por lá estar, no final do dia de escola, ou a dar-lhe a mão durante um corte. Mas não posso absorver todas as suas dores e libertá-lo de tais.

E é esta é uma das grandes angustias da maternidade, a crueldade de vermos sofrimento na cara, no corpo, no coração dos filhos e restar-nos o acto de dar amparo.
Hoje, dar amparo, foi para mim tão pouco. Mas será sempre.